Acabou a exposição do Hélio Oiticica aqui no Rio e eu nem falei dela. Agora é tarde, Inês é morta. Quem viu, viu. Quem não viu agora depende da boa vontade dos detentores do expólio do artista, e eu vou logo avisando que eles não são lá muito simpáticos. Não sei até que ponto o vil metal afeta estas pessoas, e não vou expecular sobre isso. Na verdade, a exposição "O museu é o mundo" me abriu os olhos da participação popular nas exposições de arte que eu frequento aqui no Rio.

Veja bem, eu mesma tenho a ligeira impressão de que os grandes centros culturais do Rio são meio opressivos, e eu vivo, trabalho e estudo nestes espaços. O Centro Cultural Banco do Brasil é um lindo castelo de estilo misto, bem de frente pra Igreja da Candelária. Ao seu lado, outro castelo imitando um estilo neoclássico: Casa França-Brasil. Descendo pela Avenida Rio Branco, nos deparamos com outro Centro Culural, este pertencente à Caixa Econômica. Um belíssimo prédio de estilo moderno com uma faixada deslumbrante. Estes lugares fazem exposições gratuitas. Estes lugares são super lindos e silenciosos. Estes lugares presam pelo seus papéis sociais, entretanto, algo me intriga cada vez que eu entro em um desses castelos: está tudo vazio.

Veja bem, ninguém entra "de graça" num lugar desses. Todos ali tem um propósito, apesar de eu ter uma ligeira impressão de que as vezes as mostras que lá estão não tem propóstico nenhum. Mas, vamos lá. A entrada é gratuita mas está vazio. Estranho? Nem tanto. Como eu disse, o ambiente é opressivo. Muitas vezes ele te exige um conhecimeno prévio sobre as mostras e exposições que a maioria das pessoas não tem, e não é culpa delas. Dificilmente existe uma pessoa dando alguma explicação sobre o que é e pra onde vai aquilo tudo. A maioria dos visitantes são crianças e adolescentes de escolar públicas e particulares, que se mostram particularmente entediados com tudo aquilo e esperam mesmo a hora do lanche. Os outros visitantes são pessoas estranhas que, assim como eu, lêem as placas das obras, suas descrições, observa a iluminação e tentam absorver algo mais sobre aquilo.

O que me leva a frase do Hélio: "O museu é o mundo". Um dia desses eu disse que a arte nunca será vida enquanto a via não for arte. Apesar de ser um tremenda filosofia de buteco, é exatamente isso que o Hélio quis dizer. Ninguém está acostumado a entrar no museu pra visitar uma exposição. A arte não é um interesse geral, mas a culpa não é desse povo suburbano sem cultura. A culpa é do modelo elitista europeu que, é claro, se aplica às arte em geral no Brasil.

A verdade é que a arte é feita por poucos para ser entendida por outros poucos. Daí vem os críticos de arte dizer o que é bom e o que é ruim, e eu sou obrigada a escutar alguns juízos de valor muito bizarros. O mundo não entra no museu, essa nao é a intenção! Lá dentro tem uma coleção de objetos raros que ninguém pode tocar, só alguns poucos autorizados. Muitos desses objetos são tão antigos, ou tão estranhos, ou tão feios, ou tão sem noção que ninguém dispende seu pouco tempo de diversão pra ir lá ver. Muita gente vai ao MAM, no aterro do Flamengo. Lá dá pra passar umas horas ao sol, andar de skate, tomar um sorvetinho. Poucas pessoas entram no MAM. Muita gente me diz que arte moderna é para poucos... mas por quê?

Eu não entendo esta arte que se esquece da vida, da sensibilidade e da humanidade. Pra mim não faz sentido ver um tubarão morto dentro de um tanque de gel. Isso, sério... não é arte pra mim. Desculpa! Onde foi parar aquele propósito de "arte é vida"? De que a arte deveria ter um papel libertador para todos? Sério mesmo, eu já disse por aqui que ando desacreditada com a arte e isso vem piorando cada vez mais, principalmente quando eu vejo a arte cada vez mais ligadas ao capitalismo do que a vida e a sensibilidade. Fico cada vez mais chocada quando eu percebo que a arte é feita mesmo para não ser entendidade, para não levar às pessoas a ocuparem os espaços de arte e para excluir as pessoas que perguntam "o que é isso?".

Chegou a hora de lutar por uma inclusão. Já passou da hora de perceber que cada um de nós é um artista potencial, um crítico potencial. Cada espaço de arte, cada centro cultural, cada galeria pertence a mim, a você e a todos. Nós podemos e devemos criar juízos de valores e opiniões a cerca de cada uma das coisas que está nesses espaços, assim como criticar a exclusão visual pela qual passamos. Proponho que tomemos esses espaços cada vez mais, sem se preocupar se é um castelo ou uma salinha. Se as pessoas estão bem ou mau vestidas. Se o segurança usa terno ou calça jeans.

Afinal, se "o museu é o mundo" e "arte é vida", nada mais natural de se necessitar de humanidade para transformar meros objetos em arte.

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